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Ideais iniciais cheios de valores, mas não cumpridos.

 


Aprendi no meu período de Graduação de Licenciatura em História que o professor de História deveria ser crítico e não aceitar tudo como absoluto e nem ser “Maria vai com as outras”, desconstruir para construir, ser agente transformador. Tive um professor chamado Daniel Rodrigues de Lima, que hoje está atuando no IFAM em Parintins, que dizia justamente isso, que o historiador não podia guardar para si o conhecimento, deveria dividir as informações com todos, aliás é uma missão também dos mestres e mestras do conhecimento.

Então, não posso apenas aceitar as informações que ao longo dos tempos nos foi repassado pela versão oficial sobre a Proclamação da República, que aliás nasceu com ideais valorosos, mas que foi feito com tramas, traumas e articulações na calada da noite, sem apoio popular, um golpe de estado dado contra a monarquia e tendo o bom senso do imperador D. Pedro II.

Estudar essa parte principal de nossa história, embora complexa, é procurar entender que tem muitas nuanças por detrás das cortinas,

Lendo aqui o livro “Brasil, uma história – Eduardo Bueno”, de 2012, Cinco séculos de um país em construção, da Editora Leya que indico para se ter uma ideia do que estamos falando, disponível na internet para baixar e ler.

A interpretação de Eduardo Bueno sobre a Proclamação da República difere bastante da versão oficial que costuma ser ensinada nas escolas. Enquanto a narrativa escolar oficial geralmente apresenta o 15 de novembro de 1889 como um evento glorioso e legítimo da história nacional, marcado pela transição pacífica da monarquia para a república e celebrado como um avanço democrático, Bueno retrata uma versão muito mais crítica e realista. Segundo Bueno, o golpe da Proclamação foi um ato político liderado por militares e elites, com pouca participação popular e um contexto distante das ideias democráticas. Ele mostra que Marechal Deodoro da Fonseca, figura central do evento, não tinha um projeto republicano claro e que a mudança não foi resultado de um amplo movimento social, mas sim de uma articulação de poder. Além disso, Bueno destaca que a população ficou praticamente alheia à mudança na época, e que o termo "Proclamação da República" esconde um episódio que foi, de certa forma, uma tomada de poder atropelada e precária, com consequências complexas e não tão positivas quanto a escola sugere. Na visão oficial escolar, por outro lado, muitas vezes se enfatiza a República como a chegada de um novo tempo, de modernização e liberdade política, minimizando conflitos sociais, resistências rurais, o impacto sobre a população negra e rural, e as várias contradições que o regime republicano trouxe. Portanto, a diferença principal está no tom e na profundidade da análise: Eduardo Bueno desconstrói a imagem romantizada e oficial para mostrar o golpe como um movimento de elites, marcado por contradições, violência e exclusão social, desafiando a narrativa heroica e simplificada frequentemente ensinada nas escolas.

A Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, segundo o historiador Eduardo Bueno, foi muito diferente do que muitos aprendem na escola. Não foi um momento de ampla celebração popular nem de uma transição pacífica e democrática, mas sim um golpe militar conduzido por elites e uma pequena parte do Exército. Ele destaca que Marechal Deodoro da Fonseca, principal personagem do episódio, estava doente, saiu de pijamas de casa numa manhã fria para liderar o levante contra o Império, um ato que tinha mais características de uma tragicomédia do que de uma revolução grandiosa. Embora Deodoro tenha proclamado a República, ele próprio não parecia totalmente certo do que estava fazendo, e o golpe foi praticamente sem participação popular, que só soube do fim da monarquia pelo jornal no dia seguinte. A Proclamação da República foi, na verdade, mais um ato de manipulação e tomada de poder de cima para baixo do que um movimento popular. Eduardo Bueno também chama atenção para as consequências da República, que não trouxeram a realidade idealizada de prosperidade e justiça. Ao contrário, o Brasil herdou um Estado inchado, marcado por populismo, manipulação das massas e grandes desigualdades. O século da República ficou marcado por instabilidade política, riscos constantes de guerra civil e violações dos direitos da população, em especial de grupos marginalizados, longe do paraíso democrático imaginado. Boa parte da população viveu e vive até hoje com uma realidade diferente daquela esperada com a queda da monarquia: um país ainda muito desigual, com falhas profundas nas instituições e no respeito aos direitos, especialmente dos mais pobres. Assim, Eduardo Bueno nos convida a rever a narrativa oficial sobre 15 de novembro, entendendo que a Proclamação da República foi um episódio complexo, marcado por interesses militares e das elites, com consequências que devemos analisar criticamente, sobretudo para compreender a realidade brasileira atual, tão distante da utopia de uma “Nova República” perfeita e justa. Essa reflexão é fundamental para não sermos levados por versões simplistas e para podermos pensar em caminhos mais verdadeiros para o futuro do país.

A Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 teve consequências duras e desiguais para a população negra e rural no Brasil. Para os negros recém-libertos pela Lei Áurea de 1888, a transição para a República não significou inclusão social nem reparação pelos séculos de escravidão. Ao contrário, a nova ordem republicana, dominada por elites brancas, não criou políticas de apoio aos negros, que continuaram marginalizados, excluídos dos espaços de poder e vítimas de um sistema social e jurídico racista. A Constituição republicana nem sequer mencionava direitos sociais ou raciais, oficializando uma exclusão que persistiu ao longo do século XX. Além disso, houve criminalização de manifestações culturais e religiosas negras, como a capoeira, e uma imposição velada do embranquecimento, em que a população negra era pressionada a se adequar a padrões impostos pelos ex-senhores. Para a população rural, especialmente os homens do interior, a República trouxe autoritarismo e marginalização severos. Muitas comunidades rurais sofreram violações, como o genocídio em Canudos, demonstrando que a República não inseriu essas populações nos processos políticos nem promoveu melhorias significativas em suas condições de vida. Os barões do café, elite rural paulista, ganharam maior poder político e econômico, mas isso ocorreu ao custo da exclusão das populações rurais mais pobres, que ficaram à margem da sociedade e sujeitas a políticas repressivas. Assim, tanto a população negra como a rural viram suas condições pouco alteradas ou até pioradas após a Proclamação, revelando uma República que atendeu sobretudo os interesses das elites e não promoveu uma verdadeira transformação social. Esse cenário demonstra a distância entre a expectativa otimista da Proclamação da República e a realidade vivida por esses grupos sociais, que tiveram sua exclusão confirmada e agravada pelo regime instaurado. A população negra seguiu lutando por dignidade, direitos e reconhecimento, enquanto os trabalhadores rurais enfrentavam violência e marginalização nas décadas seguintes. Essa realidade diferente do imaginado é crucial para entender os desafios sociais e raciais até os dias de hoje no Brasil. Portanto, a Proclamação da República, longe de representar um avanço social inclusivo, consolidou desigualdades históricas e manteve camadas inteiras da população brasileira à margem, cenário que ainda reverbera até hoje.

A Proclamação da República despertou várias resistências rurais importantes no Brasil, especialmente na chamada República Velha (1889-1930), marcadas por revoltas que expressavam o descontentamento das populações rurais diante das condições sociais, econômicas e políticas da época. As principais mobilizações foram: Guerra de Canudos (1896-1897): foi uma das maiores revoltas rurais. O sertão da Bahia contou com uma comunidade liderada por Antônio Conselheiro que se opôs violentamente à República, visto que defendiam valores monarquistas e rejeitavam o governo que consideravam ilegítimo e opressor. A população local, formada por sertanejos pobres, resistiu por anos contra expedições militares até o exército destruir completamente Canudos e matar praticamente toda a população. Guerra do Contestado (1912-1916): ocorreu entre Paraná e Santa Catarina, motivada pela disputa territorial e pela exploração econômica de uma região habitada por agricultores pobres. A população, liderada por José Maria, resistiu contra o avanço das empresas madeireiras e contra a repressão estatal. Foi um conflito longo que revelou o enfrentamento entre elites econômicas e a população rural pobre. Outras revoltas como a Revolta da Vacina (1904) e a Revolta da Chibata (1910) tiveram características urbanas e militares, ficando fora da área estritamente rural, mas a resistência dos trabalhadores rurais seguiu forte. Essas revoltas demonstram que a população rural, em especial os mais pobres, não aceitaram passivamente a República, mas reagiram contra a marginalização, as condições de vida precárias e a ausência de participação política real. Elas revelam um Brasil rural em conflito, desafiando o domínio das elites que governavam a República e mostrando que o projeto republicano não significou paz ou progresso social para todos, principalmente para o sertanejo e o trabalhador do campo. Assim, as principais resistências rurais contra a República foram formas de luta por autonomia, dignidade e melhores condições, ainda que esmagadas pela força do Estado. Essas revoltas marcaram profundamente a história social brasileira durante a República Velha.

A interpretação de Eduardo Bueno sobre a Proclamação da República difere bastante da versão oficial que costuma ser ensinada nas escolas. Enquanto a narrativa escolar oficial geralmente apresenta o 15 de novembro de 1889 como um evento glorioso e legítimo da história nacional, marcado pela transição pacífica da monarquia para a república e celebrado como um avanço democrático, Bueno retrata uma versão muito mais crítica e realista. Segundo Bueno, o golpe da Proclamação foi um ato político liderado por militares e elites, com pouca participação popular e um contexto distante das ideias democráticas. Ele mostra que Marechal Deodoro da Fonseca, figura central do evento, não tinha um projeto republicano claro e que a mudança não foi resultado de um amplo movimento social, mas sim de uma articulação de poder. Além disso, Bueno destaca que a população ficou praticamente alheia à mudança na época, e que o termo "Proclamação da República" esconde um episódio que foi, de certa forma, uma tomada de poder atropelada e precária, com consequências complexas e não tão positivas quanto a escola sugere. Na visão oficial escolar, por outro lado, muitas vezes se enfatiza a República como a chegada de um novo tempo, de modernização e liberdade política, minimizando conflitos sociais, resistências rurais, o impacto sobre a população negra e rural, e as várias contradições que o regime republicano trouxe. Portanto, a diferença principal está no tom e na profundidade da análise: Eduardo Bueno desconstrói a imagem romantizada e oficial para mostrar o golpe como um movimento de elites, marcado por contradições, violência e exclusão social, desafiando a narrativa heroica e simplificada frequentemente ensinada nas escolas.

Eduardo Bueno, apesar de ser jornalista e não historiador formal, utiliza em sua narrativa uma variedade de fontes primárias para construir sua visão sobre a história do Brasil, incluindo a Proclamação da República. Ele se baseia em documentos históricos da época, como cartas, depoimentos, jornais, relatos militares e documentos oficiais que ajudam a reconstruir o contexto e os detalhes do episódio com mais proximidade à realidade vivida. Além disso, ele cita correspondências pessoais de personagens envolvidos, discursos e registros visuais para oferecer uma leitura crítica e detalhada. Sua abordagem valoriza fontes de arquivo e evidências diretas do período para desconstruir a narrativa oficial e revelar aspectos menos conhecidos ou ocultos pela história tradicional. Essa construção documental permite que sua obra tenha uma perspectiva mais jornalística e acessível, porém ancorada em evidências históricas concretas. Ele também se apoia em estudos acadêmicos e historiográficos para contextualizar esses documentos primários e construir sua narrativa crítica.

Portanto, Eduardo Bueno fundamenta sua narrativa em fontes primárias históricas variadas e documentos da época para fornecer uma visão alternativa e mais complexa da Proclamação da República, aproximando o leitor da realidade dos fatos daquele período.



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