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Memória viva no corpo do povo

Se eu fosse escrever com o meu coração aberto, num tom simples e verdadeiro — assim, como se eu estivesse contando essa história pra um amigo — é mais ou menos assim que eu falaria sobre o Dia Nacional do Samba:

 Por Nonato Torres

Te amo porque pegaste dores antigas
e transformaste em canto,
porque ensinaste que há força no balanço,
cura no batuque,
ternura no compasso.
Por isso te escrevo, samba,
porque és casa quando tudo vira rua,
és farol quando tudo vira neblina,
és história que se conta com o corpo
e se eterniza no ouvido de quem sente.

Esse dia foi escolhido como data para celebrar o samba por causa de um marco importante: entre 28 de novembro e 2 de dezembro de 1962 aconteceu o I Congresso Nacional do Samba, no (então) Estado da Guanabara, no Rio de Janeiro — um encontro de sambistas, compositores, estudiosos da cultura e amantes da música.

Na conclusão desse Congresso, foi redigida a Carta do Samba, que defendia o samba como patrimônio cultural e propunha o dia 2 de dezembro para celebrar o ritmo.

A partir dali várias cidades — especialmente no Rio e na Bahia — passaram a comemorar a data. Com o tempo, o sentimento de homenagem se espalhou e a data se consolidou como símbolo do amor ao samba em todo o Brasil.

Quando chega 2 de dezembro, não celebramos só uma data — celebramos a cultura, a história, a ancestralidade viva. O samba nasceu das raízes africanas trazidas pelos povos escravizados, misturando suas músicas, danças e rituais com as realidades do Brasil.

Com o tempo, o samba se espalhou por todo o país, transformou-se, ganhou formas variadas — do samba-de-roda baiano ao samba-enredo do carnaval, do pagode aos sambas de terreiro. É plural, diverso, mutável — mas sempre com o coração batendo forte.

Celebrar o samba é celebrar quem somos — um país com muitas vozes, muitas dores, muitas alegrias; um país onde a música vira memória, dança vira resistência, ritmo vira identidade.

Para mim — e acredito que para muitos — o samba não é só um estilo musical. É abraço de comunidade, é reencontro com raízes, é festa e também dor, é melancolia e alegria juntas. É o pandeiro chamando o corpo pra dançar, a cuíca suspirando saudade, o cavaquinho contando histórias — umas tristes, outras cheias de esperança.

No Dia do Samba, sinto que celebramos tudo isso: o suor do batuque nas ladeiras, o samba-de-roda em rodas humildes, a escola de samba desfilando seus sonhos, a voz do sambista falando de luta, amor, vida. É reconhecer que, de Norte a Sul, o samba pulsa no Brasil — e pulsa em nós.


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